Crítica do novo suspense estrelado por Nicolas Cage, que chega dia 19 aos cinemas brasileiros
Assim que começa Ligação Sombria, filme dirigido pelo israelense Yuval Adler, nos deparamos com um diálogo entre pai e filho sobre se esconder segredos seria bom ou ruim. E essa é uma questão que gera uma pulga atrás da orelha de quem assiste a esse instigante e intrigante suspense protagonizado por Nicolas Cage.
O pai mencionado acima é interpretado por Joel Kinnaman (O Silêncio da Vingança e O Esquadrão Suicida), que vive um motorista que está para ir ao hospital onde sua esposa terá um filho. Acontece que, chegando lá, um homem estranho (Nicolas Cage) entra no carro e o ameaça com uma arma, mandando dirigir para sair dali. Esse início e o ritmo de gato e rato do filme, nos faz lembrar em certa medida Colateral – filme de 2004, dirigido por Michael Man e estrelado por Tom Cruise e Jamie Fox – , mas as comparações ficam apenas na estrutura e no ritmo, pois aos poucos vamos percebendo que há segredos guardados. Que os personagens podem ser mais complexos do que aparentam ser.
Comecemos pelo passageiro interpretado por Nicolas Cage. Por boa parte do filme, é perfeitamente possível oscilar entre esse cara ser apenas um louco psicopata ou ter até algo de sobrenatural nele. E é claro que não vou revelar, não vou entrar em terrenos de spoiler, a verdade, porém, é que Cage entrega mais uma ótima atuação. Em alguns momentos ele parece estar muito à vontade, até se divertindo, na pele do misterioso personagem. Entretanto, em um certo momento da trama, o motorista David (vivido por Kinnaman) também começa a ter sua identidade contestada. E, mais importante do que dizer o que é um e o que é outro, é destacar a atuação dos dois atores. O filme é muito focado nos dois, nos diálogos, na tensão entre os personagens. E tanto Cage quanto Kinnaman entregam ótimas atuações. Cage tem seus célebres, e já conhecidos, momentos de ensandecimento, mas, para além disso, consegue entregar a complexidade do que é o personagem. Com momentos, até certo ponto, cômicos, e outros realmente tensos e dramáticos. Já Kinnaman entrega com competência um motorista comum que está apenas pensado na sua família.
O diretor, que já esteve à frente de outros filmes do gênero de suspense, como A Agente Infiltrada e Os Segredos que Guardamos , mostra um amadurecimento e um domínio maior ao conseguir criar uma atmosfera tensa, com ótimos diálogos que ampliam a sensação de que as coisas podem não ser o que parecem. Adler investe também em cores e luzes mais florescentes, algo que destaca os cenários, as paisagens e até as interpretações dos atores, ampliando também o clima de apreensão que vai se avolumando no filme.
Se entre as características do gênero de suspense estão a tensão e o mistério, Ligação Sombria entrega esses quesitos de forma que consegue prender a atenção e gerar interesse do expectador. Mostrando que tem que se ter cuidado com certos segredos do passado, pois eles podem voltar. E às vezes voltam na forma de um Nicolas Cage perverso e perturbado.