Depoimento de Paulo César Saraceni transcrito por Fernão Pessoa Ramos
Onze horas da noite estávamos no Alcazar, esperando o texto de Miguel Borges. Havia um ar de coisa histórica. Miguel Borges começou: “Não queremos mais cinema-literatura. Não queremos mais cinema-escultura. Não queremos mais cinema-dança. Não queremos mais cinema-teatro. Queremos cinema-cinema. Aí eu pulei – todos estávamos espantados com um começo de manifesto que pretendia reinaugurar o cinema brasileiro.
Aquilo era ridículo […] Não quero ouvir mais nada, eu disse. Isto é manifesto dos anos 1920, do cinema mudo. Pretensioso, nem Eisenstein assinaria.
Parece o filho pedindo para o pai: “Quero uma bola. Não uma bola de futebol, não uma bola de basquetebol, não uma bola de vôlei, não uma bola de polo aquático, não uma bola de tênis, não uma bola de bilhar, não uma bola de pingue-pongue. Quero uma “bola-bola”.
[…] Virou piada. Ficou conhecido como o Manifesto Bola-Bola. O movimento (Cinema Novo) nasceu em 1959 com um manifesto frustrado.
Trecho de Nova História do Cinema Brasileiro, Volume 2 (Edições SESC, p.34)