Uma sensação muito boa de se sentir ao sair de uma sala de cinema é a da surpresa positiva (óbvio que uma surpresa negativa não pode ser legal). É muito bom você ir assistir a um filme, sem grandes expectativas, e sair com sentimentos inesperados. Pois é o que me aconteceu ao subirem os créditos de Alien: Romulus, novo filme da franquia iniciada em 1979 com Alien, o Oitavo Passageiro, de Ridley Scott. Numa época em que remakes e reboots povoam os estúdios e, consequentemente, as salas de cinema, não é difícil se deparar com obras que buscam apelar para a nostalgia e que apresentam pouco além disso. Porém não é o caso desse novo longa-metragem que chega agora aos cinemas brasileiros.
Alien: Romulus é dirigido pelo cineasta uruguaio Fede Alvarez, que já havia se destacado no gênero de terror com filmes como A Morte do Demônio, de 2013, e O Homem nas Trevas, de 2016. E agora realmente se consolida como um nome bastante relevante neste gênero. Alvarez conseguiu realizar uma obra que tem a sua identidade autoral, porém sem deixar de buscar diálogos com a produção original criada por Ridley Scott. Por falar em produção original, a trama de Alien: Romulus se localiza cronologicamente entre o primeiro longa-metragem da franquia, de 1979, e o segundo, Aliens: O Resgate.
A história dessa nova peça no quebra-cabeças da franquia de Alien acompanha Rain
(Caille Spaeny) e Andy (David Jonson) – que é um ser sintético, mas que Rain tratava como um irmão – que tentam sair do planeta-colônia onde têm sua força de trabalho explorada, mas têm seu pedido negado. Os dois então se juntam a um grupo que planeja sair de forma clandestina para outro planeta usando uma nave e câmaras criogênicas que estão numa estação deserta, abandonada. Esta estação é, justamente, a do clássico longa-metragem de 1979 protagonizado por Sigourney Weaver. Essa é a premissa inicial que suscita a entrada na velha estação para buscar as câmaras e o contato inesperado e indesejado com a espécie alienígena velha conhecida por todos nós.
Percebemos, a partir do momento que os aliens entram em cena e atacam o grupo, toda a capacidade de Fede Alvarez em arquitetar um ambiente onde a apreensão vai transitando gradualmente para o horror. E aqui o diretor mostra a evolução do que ele já havia feito com êxito em O Homem nas Trevas, lançando mão não só do bom uso de movimentos de câmeras e escolhas de planos, como também do som para construir essa apreensão. A sequência em que Rain e Tyler (Archie Renaux) precisam passar em silêncio por várias criaturas e evitando aumentar a temperatura corporal é angustiante e exemplifica bem esse aspecto. A recriação de cenas clássicas que dialogam com o início da franquia também é um acerto. Momentos como o que um alienígena sai de dentro de um dos componentes da equipe ou a cena em que que um alien fica cara a cara com a Rain – numa clara referência ao emblemático momento de Alien 3 em que a Ripley, vivida por Sigourney Weaver, tem um alienígena quase encostando no seu rosto – simbolizam um retorno à origem e a intenção de reiniciar a franquia por outro caminho, caminho. Algo que também chama a atenção e remete aos primeiros filmes da série é o uso de efeito prático. E aqui Fede Alvarez também utiliza de forma digna de elogios. As criaturas alienígenas foram muito bem criadas. Visualmente ficou bem impressionante.
A Rain, interpretada de forma bastante competente por Cailee Spaeny (que já havia se destacado em Guerra Civil), já surge como uma espécie de nova Ripley. Porém, falando em interpretação, David Jonson é outro grande destaque. O sintético Andy é um personagem complexo na trama, devido às alterações de sua programação. E essas mudanças podem ser percebidas através das expressões do ator. Inclusive, vale aqui um questionamento sobre Andy, além de ser o único sintético do grupo, é também o único negro e o único a ser destratado, discriminado. Estaria sendo discriminado só por ser sintético ou também por ser negro? Muito provavelmente não é algo fortuito. Certamente algo simbólico inserido por Alvarez que também assina o roteiro ao lado do compatriota Rodo Sayagues, parceria que já esteve presente em várias produções do cineasta.
Conduzido por um diretor bastante competente, com uma trama muito bem construída e boas atuações, Alien: Romulus mostrou ser uma animadora retomada de uma franquia que tem bons filmes. E, nesse mar de reboots e retomadas de franquias que, não raro, demonstram-se um tanto quanto desnecessárias, é uma ótima surpresa.