“Apesar das dificuldades, é muito massa poder exibir um filme”, afirma o cineasta cearense que acaba de lançar Centro Ilusão no Festival do Rio.

Pedro, queria começar pela participação do Fernando Catatau no projeto. Você já escreveu o roteiro com ele em mente para interpretar o Tuca?
Sim, desde que eu comecei a escrever o roteiro do Centro Ilusão, sempre foi pensando no Catatau como Tuka. Ele é uma referência muito grande pra mim, um dos artistas que mais me influenciaram, sou muito fã de suas músicas.
(Ele) é um cara que é muito importante para a cena musical e artística de fortaleza, não só pelo talento e obra, mas também pela postura. Então, desde que eu comecei a escrever esse roteiro – uma espécie de homenagem à música cearense que eu curto – sempre pensei no Catatau como Tuca, sem ter a certeza de que ele iria fazer, porque eu não sabia se iria topar, já que ele nunca tinha feito nada no cinema.
Assim que a gente ganhou o Edital e a possibilidade de fazer o filme se tornou uma realidade, ele foi a primeira pessoa que eu chamei, e foi uma honra, um prazer enorme ele ter topado, e uma experiência criativa incrível poder construir o filme e o Tuca, vê-lo atuando, ver um ator nascendo, foi muito emocionante, eu sou muito feliz com essa parceria com o Catatau.
Eu vejo em Centro Ilusão um flerte com aquela estrutura clássica de road movie, onde novos personagens surgem à medida que os protagonistas chegam em uma nova localidade, que no caso do seu filme é a região central de Fortaleza. Em alguma medida isso foi planejado ou é só viagem da minha cabeça? (risos)
O filme tem muito essa vontade de ser também um passeio pelo centro de fortaleza, e que nesse percurso fossem encontradas pessoas, outros personagens do centro, outras pessoas importantes para os nossos personagens.
E aí, no caso, não seria um roadie movie, mas talvez um walk movie. Esses personagens perambulando, andando pelo centro, meio que se perdendo e se achando nesse caminho.
Então, sim, o filme tem essa estrutura de um walk movie, de um percurso e de encontros. É um filme muito disso, de percurso e de encontro.
Aí eu acho que vai em vários sentidos, né? O percurso geográfico pela cidade e pelo centro, mas também o percurso desses artistas e os encontros: entre cinema e música, mas também um encontro desses personagens entre eles e com outras pessoas.
Ao mesmo tempo esse périplo meio que constrói uma espécie de mapa afetivo do centro de Fortaleza por meio das pessoas que o habitam, ocupam e ali trabalham. E eu vejo um contraponto em relação a A Filha do Palhaço, que é um filme mais litorâneo, digamos, com a praia presente em diversas cenas.
Acho que existem infinitas Fortalezas, e aí a cada projeto eu tento levar uma Fortaleza para esse filme, uma Fortaleza que é minha: são lugares, espaços, sentimentos que fazem parte da minha vida ali, mas mesmo a minha vida na cidade também tem muitos momentos, muitos espaços, muitos locais, e o centro é um desses locais que é muito importante para mim, eu acho que eu tenho um constante desejo de está-lo filmando.
O Centro Ilusão não é o primeiro filme na região; o Pajeú, que é um longa que eu fiz alguns anos atrás, também se passa no centro de Fortaleza, eu fiz um curta chamado Retrato de Uma Paisagem, que é todo no centro, então o centro é esse lugar também de encontro, como a gente estava falando na resposta anterior.
O filme é sobre encontros, e o centro é esse lugar de encontro que proporciona a uma cidade se encontrar, pessoas de diversos bairros se encontrando ali, de diversas classes, e trajetórias diferentes, então o centro existe como esse lugar possível de encontros e trocas.

Bicho, achei do cacete o som da Stacato Popeline (escrevi certo?) e fiquei triste ao procurar informações sobre a banda na internet e não achar nada, o que me leva a crer que ela foi formada especialmente para o filme, é isso mesmo?
Pois é, né? Ficou muito massa essa banda, e é uma banda que, a princípio, foi formada para o filme; ela é uma junção de muitos artistas da cidade que eu admiro pra caramba, e um encontro até, de certa forma, improvável, porque é tanta gente talentosa, tanta gente importante para a música cearense, conseguir reuni-los não foi fácil, mas o cinema proporcionou essa reunião, e para mim foi uma honra, significa muito para o filme ter aquelas pessoas em cena, tocando ali, são referências da música cearense.
Mas assim, eu não duvido que agora, com o filme nascendo e tal, isso possa se desdobrar em outras coisas, e que possa ter algum tipo de sequência e de consequência, essa junção de tanto artista massa.
Deixa eu encerrar com uma pergunta bem cretina (risos): quais conselhos você daria pra quem almeja fazer cinema no Brasil?
Pô, o que eu vou falar agora tem até a ver com o filme, né? Que é sobre talvez um pouco a dificuldade de se fazer arte no Brasil.
E aí é isso: um conselho que eu posso dar para quem quer fazer cinema é ser muito apaixonado por cinema, porque não é fácil, então você tem que estar muito a fim, você tem que amar muito isso, e eu tenho certeza que se você amar e se dedicar vai valer muito a pena.
Porque, apesar das dificuldades, é muito massa poder exibir um filme, as trocas que rolam a partir disso, todo o processo de realização de um filme, eu acho tudo muito mágico e encantador, adoro o que faço.
Seja apaixonado por cinema em todos os sentidos, tanto assistir filme pra caramba – todo tipo de filme – ir para o cinema e se dedicar também aos processos, ler sobre cinema, conversar, fazer filme tem que ser um ato cotidiano.
E lógico que a gente não está todo dia dentro de um set, mas como levar o fazer cinematográfico para o resto dos dias que a gente não está em set?
Então eu acho que esse é um exercício que quem quer fazer cinema tem que fazer: vivê-lo intensa e cotidianamente.
Pedro Diógenes se formou na primeira turma da Escola de Audiovisual de Fortaleza em 2008 e integrou o coletivo Alumbramento entre 2010 e 2016. Pedro dirigiu e roteirizou 9 longas-metragens, realizou 11 curtas e trabalhou como técnico de som em mais 60 filmes. Seus longas foram exibidos e premiados em importantes festivais como: A filha do palhaço (prêmio de melhor filme pelo júri popular na Mostra de Tiradentes e na Mostra de Gostoso), Inferninho (Estreou no Festival de Rotterdam e foi premiado no Festival do Rio, Janela Internacional, Queer Lisboa) O Ultimo Trago (Melhor Montagem, Fotografia e atriz coadjuvante no Festival de Brasília), Com Os Punhos Cerrados (Estreou em Locarno e ganhou Melhor filme no Transcinema do Peru, no Cineb do Chile e Santa Maria da Feira em Portugal), No Lugar Errado (Menção especial no Festival LUME), Os Monstros (premiado no BAFICI) e Estrada Para Ythaca (vencedor da mostra Aurora em Tiradentes). Pedro dirigiu a serie de TV musical Porto Dragão Sessions exibida no canal Music Box. Atualmente Pedro Diógenes faz parte da Marrevolto Filmes.