O projeto de oficina de roteiro “Dos Filmes que Ainda Não Fizemos”, idealizado por Rober Corrêa, percorreu diversas cidades de todo o Brasil e, ao todo, publicou mais de 11 livros de roteiros. Em abril, foi realizada uma edição especial na Zona Norte do Rio, oferecendo aulas gratuitas de roteiro cinematográfico e diagramação de livro na quadra do G.R.E.S Império Serrano, em Madureira.

A quadra do Império Serrano, coração cultural de Madureira, recebeu em abril uma atividade inédita: oficinas de roteiro do projeto “Dos Filmes que Ainda Não Fizemos”, que pela primeira vez chegaram ao Rio, após seis edições pelo Brasil. Por duas semanas, moradores da Zona Norte mergulharam na arte do roteiro cinematográfico e nas possibilidades de diagramação de um livro.. Durante os encontros, os participantes vivenciaram a escrita de forma prática e imersiva, explorando suas possibilidades literárias e de publicação.
O resultado? Uma coletânea de roteiros de curta-metragem inéditos será publicada em livro físico e digital, criando um retrato plural da região. “Mais que textos, são documentos afetivos da Zona Norte hoje”, explica o idealizador do projeto, Rober Corrêa. A zona norte carioca enfrenta uma realidade conhecida, não só no Rio de Janeiro, mas em todos os grandes centros urbanos: enquanto a produção audiovisual se concentra nos bairros mais ricos, áreas periféricas ficam à margem da criação.
Realizado via Lei Paulo Gustavo e RioFilme, em parceria com a Descompasso Produções e a G.R.E.S Império Serrano, o projeto prova que democratizar a cultura vai além de realizar atividades na periferia: é aprender com ela. O livro-resultado será lançado inicialmente em formato digital, em 16/06/2025 – primeiro passo para que esses “filmes ainda não feitos” possam ganhar o mundo, tornando-se movimento na imaginação de quem os lê.
Vozes do projeto
Rober Corrêa, oficineiro, celebra o local escolhido: “Realizar as oficinas de roteiro na quadra do Império Serrano, em Madureira, foi uma forma de aproximar a escrita audiovisual do cotidiano das pessoas. Trabalhar o roteiro como gênero literário permitiu que os participantes experimentassem a narrativa de forma prática e coletiva. Isso fortalece o vínculo com a própria história e amplia o acesso à criação cultural, impactando diretamente a autoestima e a expressão da comunidade local.”
Já Helena Lessa, responsável pelas aulas de diagramação, destaca a autonomia criativa como ponto chave: “O objetivo das minhas aulas foi oferecer algumas ferramentas pra ajudar a incentivar a autonomia criativa de cada um. Nas atividades de diagramação e construção de cadernos, desenvolvemos o olhar aos detalhes e, na prática, descobrimos que é possível pensar e produzir suas próprias publicações, seja de modo mais experimental ou convencional.”
Quem fez, contou
Vivian, publicitária e moradora de Madureira, celebrou a iniciativa: “Participar das oficinas na quadra da Império Serrano foi incrivelmente enriquecedor. A importância de levar cultura para locais como Madureira, que nem sempre são contemplados com projetos desse tipo, é imensurável. A troca de conhecimento em um ambiente tão simbólico reforçou minha paixão pela criação.”
Gabriele Nascimento, estudante de Biologia e moradora de Marechal Hermes, descobriu novas dimensões de sua criatividade: “Iniciei o projeto buscando entender a estrutura de um roteiro para fins pedagógicos, mas acabei me aventurando pela ficção, explorando novas formas de divulgar o conhecimento científico. A experiência foi fundamental para desbloquear minha criatividade.”
Luiz Claudio Motta Lima, professor de Geografia e organizador do cineclube Subúrbio em Transe, elogiou a qualidade das oficinas: “Participar das oficinas foi uma excelente oportunidade para aprofundar meu entendimento sobre a criação de histórias cinematográficas, especialmente em um contexto que valoriza a produção cultural da Zona Norte.”
Isabelle Trigo, arquiteta e artista visual de Honório Gurgel, expressou sua satisfação: “A oficina desmistificou o processo de criação de roteiros, tornando-o acessível e convidativo. Foi uma jornada de descoberta que revelou uma nova maneira de expressar minha arte, algo que considerava complexo e inacessível.”