Declaração dada durante uma conferência na Universidade do México, em 1953.
A pálpebra branca da tela teria que refletir a luz que lhe é peculiar e poderíamos explodir o universo. O filme é uma magnífica e perigosa arma, se manejada por um espírito livre, ele é o mais admirável instrumento conhecido para expressar o mundo dos sonhos, da emoção, do instinto.
O mecanismo que cria a imagem cinematográfica é, por seu próprio funcionamento, a forma de expressão humana que mais se assemelha ao trabalho da mente durante o sono; um filme parece ser uma imitação involuntária do sonho: a escuridão que gradualmente invade a sala é o equivalente a fechar os olhos, é o momento em que a incursão noturna ao inconsciente começa na tela e nas profundezas do ser humano.
Como no sonho, as imagens aparecem e desaparecem em dissoluções, e o tempo e o espaço se tornam flexíveis, contraindo-se ou expandido-se à vontade, a ordem cronológica e a duração relativa não correspondem mais à realidade.
Trecho de A Linguagem Secreta do Cinema (Editora Nova Fronteira, p.90-91)