cinema sob uma perspectiva contra-hegemônica

Diário de Bordo do Sinistro Fest: terceiro dia

Chegou o domingo, o último dia do festival. Com curtas e longas sendo exibidos na parte da tarde e a cerimônia premiação começando às 19 horas.

No primeiro horário, das 14 horas, estava programada a exibição de três curtas e o longa Histórias Estranhas 2. Dos curtas, eu destaco Apotemnofilia, um bom curta-metragem que investe no horror corporal e tem bastante êxito. O filme espanhol, dirigido por Jano Pita, mostra Clara, em sua noite de estreia no teatro, se recusando a sair do camarim em virtude de algo dentro dela que a atormenta. O trabalho com efeitos práticos chama a atenção.

Outro destaque foi o longa-metragem Histórias Estranhas 2. Assim como o primeiro, esta sequência traz uma antologia de histórias, cada uma dirigida por um cineasta, tendo Ricardo Ghiorzi como o idealizador do projeto. Como a maioria das antologias, há certa irregularidade nesta, com algumas histórias tendo mais acertos do que outras. São noventa minutos para contar seis histórias que se concentram no tema de demônios e possessões, com os diretores Rodrigo Aragão, Salles Fernandes, Filipe Ferreira, Ricardo Ghiorzi, José Pedro Lopes e Henrique Nuzzi se revezando na direção.

Vale destacar Spalla, escrito e dirigido por Filipe Ferreira, que traz um violinista isolado em uma casa, onde se vê atormentando por uma separação e por outras coisas mais estranhas. Necromântica, segmento dirigido por Rodrigo Aragão, é bem divertido. Carpe Diem Demonium, realizado por Ghiorzi também é muito bom, com referência a O Exorcista, mas trazendo um pequeno plot twist. Saí da seção torcendo para termos mais Histórias Estranhas, um 3, um 4…

Às 16:30, fui privilegiar curtas que passariam na Sala Seu Vavá, cujo nome é uma bela homenagem a um trabalhador, Raimundo Carneiro de Araújo, carinhosamente chamado de Seu Vavá, que viveu 91 anos dedicados ao cinema. Até seus últimos dias, ele cuidou do Cine Nazaré, o último cinema de bairro de Fortaleza, localizado no Otávio Bonfim. Nessa seção, bons curtas foram exibidos, destaco dois que chamaram bastante a minha atenção. Água Doce, dirigido por Antônio Miamo, e Transe, de Samira Uchoa e Mia Schimon.

Àgua Doce, que traz Jesuíta Barbosa no elenco. O filme trata de dois primos que não se veem há um bom tempo e se reencontram para resolver questões relacionadas a uma herança. Parte dessa premissa para abordar muito bem temas como memória, afeto, desejo e regionalidade. Já Transe é outro curta muito bem feito que acompanha a jovem Iara, em crise no relacionamento, indo para uma sessão de massagem que mudaria seu destino. O filme tem no elenco a dupla de diretoras e a cena da massagem é excelente, sensual, tensa. Me agradou bastante esse curta-metragem.

Cerimônia de premiação

Então chegou a tão esperada cerimônia de premiação da terceira edição do Sinistro Fest. O responsável por apresentar os prêmios foi Tep Rodrigues que abriu com os agraciados para a categoria de curta-metragem internacional. Duas merecidíssimas menções honrosas para, o já citado aqui neste texto, Apotemnofilia e para Nocturna. O troféu Quibungo de melhor curta-metragem internacional foi para Hipnosys, que eu confesso não ter assistido. Na sequência, veio a premiação os curtas nacionais que premiu o filme Mãe.

Os Quibungos de melhor longa-metragem internacional e nacional foram muito merecidos. O ótimo filme mexicano Párvulos venceu como longa internacional e o excelente Atmosfera levou o de melhor nacional. Muito acertadas escolhas.

Vale ressaltar que o troféu Quibungo é lindíssimo e fiquei com muita inveja de todos e todas que levaram um para casa.

Fonte: divulgação Instagram @sinistrofest

Nosferatu e o bebê

Um personagem que roubou as atenções foi o Nosferatu, ou melhor, a drag queen Suzana Moraes caracterizada como o vampiro Nosferatu. Ela foi um dos destaques com todo mundo querendo tirar foto – inclusive este que vos escreve. Porém houve um momento que achei a síntese do festival e do gênero de horror. Nosferatu estava do lado de fora, em frente ao Cineteatro São Luiz para uma sessão de fotos oficiais, arrebatando atenção e medo de crianças e também de adultos, quando uma mulher se aproximou com um bebezinho de colo. Todos paramos para prestar a atenção na reação do bebê. E não demorou para ele ficar eufórico, quase que querendo pular do colo da mãe para os braços de Nosferatu. E estamos falando de um vampiro horroroso. Eu fiquei tão impressionado que esqueci de tirar foto do momento.

A euforia da criança representou bem a paixão que circunda esse gênero tão discriminado, mas que resiste por ser também muito admirado.

Viva o Sinistro Fest! Viva todos os realizadores! Viva o cinema fantástico!

Lista de premiados e menções honrosas:

Menção honrosa para curta-metragem internacional

  • Apotemnofilia
  • Nocturna

Troféu Quibungos para o melhor curta-metragem internacional

  • Hipnosys

Menção honrosa para curta-metragem nacional

  • Visagens e Visões

Troféu Quibungo para melhor curta-metragem nacional

  • Mãe

Troféu Quibungo para melhor longa-metragem internacional

  • Párvulos

Troféu Quibungo para melhor longa-metragem nacional

  • Atmosfera