Sexta-Feira 13 é o nome desta nossa nova coluna que está estreando hoje, justamente, numa… sexta-feira 13. Aqui, neste espaço, toda sexta, haverá um convidado ou convidada, amante do cinema de terror, para falar sobre o filme que o fez gostar do gênero e sua experiência ao assisti-lo pela primeira vez.
Para estrear essa nossa nova seção, convidamos o queridíssimo Queops Negronski, que também é dono de uma imponente voz, diga-se de passagem. Vamos ao texto!
As voltas que a vida dá! O texto onde falarei como surgiu o meu interesse pelo terror é o meu último sobre o tema ou qualquer outro gênero de filmes, por bastante tempo. Outro fato curioso é que não citarei o filme que me fez gostar de filmes de terror pois, pelo que eu lembre, não existe um. Exatamente, não existe e se existiu, não lembro agora. Sabem do que lembro? Da sensação que esse universo me proporciona até hoje: desconforto e outras coisas que me fazem querer não estar de frente à tela, ao mesmo tempo em que me prendem à poltrona. A minha falecida mãe dizia para quem quisesse ouvir que, quando eu era criança, acordou várias vezes de madrugada com gritos meus causados por pesadelos. Eu não lembro disso, mas, acho lisonjeiro, afinal, era o medo em seu estado mais puro, um menino indefeso, desacordado, açoitado por demônios invisíveis. Lindo. Até hoje, isso é o que me guia neste universo particular, o desconforto, a desconfiança, a vontade de fugir junto com a vontade de querer estar ali…
Agora, mergulhando fundo no poço da minha memória, eu consigo vislumbrar flashes de filmes vistos numa TV em preto e branco, nos últimos anos da década de 1970, como Calafrio (1971), por exemplo, que um dia, nos anos 2000, quando pensei o estar vendo pela primeira vez, uma cena me deu um estalo e na hora pensei “Calafrio!”. Cavando mais fundo ainda, me vem a lembrança capas de gibis expostas em bancas de revista, onde eu passava longos minutos observando-as, criando em minha cabeça histórias que as imagens evocavam, revistas como Kripta, Spektro, Calafrio, mais as da linha de terror da Editora Bloch e por falar em histórias, não poderiam faltar aquelas baseadas em “fatos reais” contadas pelas mulheres mais velhas da família, causos cabulosos contados com extrema seriedade e que me deixavam muito mal. Bons tempos, excelentes na verdade. Tenho sorte de lembrar vivamente dessas coisas, afinal, sabe-se hoje em dia que a memória é um jogo de tabuleiro onde não raro pulamos casas ou faltam peças e vou ficar muito triste quando exatamente essas lembranças começarem a desvanecer, porque a essa altura do texto você já deve ter percebido que o terror é tudo na minha vida e se não, saiba: o terror é tudo na minha vida, pois sempre aliviou as dores da minha existência e a ele sempre serei grato por suas infinitas e divertidas possibilidades.
Obrigado Nílvio Pessanha e Cine Trincheiras, por me permitirem fechar com chave de ouro essa fase da minha vida. A partir de agora, volto a ser o Queops de há muito tempo, apenas mais um fã de filmes de horror, um curioso igual a você que está lendo, um ser que busca diversão a cada “play”, livro, entrevista ou HQ e assim estar em paz com meus pesadelos, pois sim, ainda os tenho e alguns me acompanham por dias a fio. Coisas da vida.
Tamo junto, um dia eu volto.
Queops Negronski é autodidata com atuação multimídia. Fã, entusiasta e estudioso do gênero horror com participação em sites especializados, blogues, cursos sobre o horror negro, produção de podcasts, filmes e série de tv. Escreveu nos livros O Melhor do Terror dos anos 80, O Melhor do Terror dos anos 90 (Ed. Skript), Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais (Abraccine e Editora Letramento), no blog 365 Filmes de Horror e de vez em quando escreve em seu blog pessoal, o Todo Mundo Morre no Final.