Filme que está estreando nos cinemas nacionais salva quem deseja uma mera diversão escapista, mas deixa indefeso quem busca algo mais
Filmes de super-heróis não são algo novo. O primeiro longa-metragem baseado num personagem de quadrinhos de super-herói foi Batman: O Homem Morcego, de 1966, depois vieram outros filmes do Batman, do Super-Homem, entre outros. Porém, foi somente com X-Men, em 2000, que tivemos o início da popularização que observamos hoje. Só que esta popularização, depois de apresentar números impressionantes – sobretudo com os dois últimos filmes dos Vingadores – entrou num momento de crise, tanto de público, quanto de crítica. Filmes tanto de personagens da DC quanto da, até então toda poderosa, Marvel passaram a amargar sucessivos prejuízos. O subgênero que era criticado por muitos críticos e cineastas, passou a ser questionado por um possível esgotamento.
A descrição deste contexto já seria suficiente para se entender sobre a expectativa em torno do novo filme da Marvel que agora chega aos cinemas, Deadpool & Wolverine; mas podemos acrescentar o sucesso dos dois filmes anteriores do mercenário interpretado por Ryan Reinolds e, principalmente, o tão esperado, pelos fãs de filmes de herói, retorno de Hugh Jackman ao papel de Wolverine. Tudo o que foi exposto deixa bem claro o quanto era aguardado o primeiro filme com heróis mutantes produzido pela Marvel. Algumas questões surgem então: o filme atende às expectativas? É o filme que vai salvar o Universo Cinematográfico da Marvel e o subgênero de super-heróis? As respostas, respectivamente, são “sim” e “não”.
Vamos por partes. Deadpool & Wolverine é dirigido pelo cineasta canadense Shawn Levy (Gigantes de Aço, Uma Noite no Museu, Free Guy) e sua trama nos mostra Wade Wilson (Ryan Reynolds) em um momento de relativa tranquilidade com seus amigos quando é pego por agentes da AVT para falar com Paradox (Matthew Macfadyen que lhe fala do iminente fim do seu universo, consequência da morte de Wolverine (Hugh Jackman) em Logan (2017). Deadpool parte então para buscar um Wolverine para o seu universo. A partir daí o que vemos é o início de enxurrada dos chamados fan services (participações e elementos criados e inseridos na trama para agradar fãs), Ryan Reynolds mostrando a mesma desenvoltura para interpretar o personagem, assim como Hugh Jackman também não parecia estar tanto tempo sem interpretar Logan. Além disso, a química e o timing entre os dois é um dos pontos mais altos do filme. As coreografias de lutas e as cenas de ação são muito bem executadas. Porém, a história é bem fraca, com soluções fáceis para obstáculos na trama. A vilã Cassandra, vivida por Ema Corin, também não convence, assim como Paradox. Ambos são vilões sem profundidade e com motivações fracas superficiais que acabam contribuindo para as tais soluções fáceis da trama. Entretanto, no saldo final, Shawn Levy consegue entregar um filme que diverte, talvez divirta mais os fãs dos personagens e da Marvel, do que outros, mas ainda assim diverte de uma forma geral. E isso faz, sim, com que Deadpool & Wolverine atenda às expectativas.
Já no que tange o novo longa-metragem do chamado mercenário tagarela ser uma redenção para a Marvel e os filmes de herói, a coisa é mais complexa. Ser um filme engraçado, divertido e com boas cenas de ação é muito pouco para se pensar em ser uma salvação para o subgênero. Sinceramente, não acho que haja um esgotamento dos filmes de super-heróis. O que há é o público de saco cheio de filmes ruins com super-heróis. E essa é a questão, Deadpool & Wolverine não é uma obra que faça você sair do cinema achando que viu um grande filme, com novas e ousadas ideias e tudo mais. Para se pensar em ter um novo fôlego para os super-heróis no cinema é preciso entregar mais.
Deadpool & Wolverine é uma obra que vale a ida ao cinema, mas não será nenhuma grande experiência fílmica. Traz dois atores com bastante carisma e química entre sim, um diretor que consegue entregar boas cenas de ação, é um filme que vai render caminhões de dinheiro para a Marvel, mas não é suficiente para salvar universo nenhum.